O jantar foi uma decepção. Na semana seguinte teria que pedir às criadas que deixassem uma folga no vestido para eu poder comer.
No quarto, Anne, Mary e Lucy esperavam para me ajudar a tirar o vestido, mas expliquei que precisava usá-lo por mais um tempinho. Anne foi a primeira a adivinhar que Joseph iria me ver, porque eu sempre ficava ansiosa para tirar aquelas roupas apertadas.
— A senhorita gostaria que ficássemos até mais tarde? Não será problema — disse Mary, um pouco esperançosa demais.
Depois da calamidade que fora a visita de Joseph uns dias antes, resolvi que o melhor a fazer era dispensá-las mais cedo. Além disso, não suportaria que elas me vigiassem até ele aparecer.
— Não, não. Estou bem. Se eu tiver algum problema com o vestido mais tarde, toco a campainha.
As três saíram pela porta um pouco relutantes e me deixaram esperando Joseph sozinha. Não sabia quanto tempo ele demoraria e não queria começar um livro e ter que parar ou sentar em frente ao piano só para depois ter que me levantar. Acabei me deitando na cama e, enquanto ele não aparecia, deixei minha mente viajar. Pensei em Miley e em sua gentileza. Então me dei conta de que, fora alguns detalhes bem pequenos, eu sabia pouco sobre ela. Depois pensei nas garotas falsas. Fiquei imaginando se Joseph saberia diferenciá-las.
A experiência do príncipe com mulheres parecia ser muito grande e, ao mesmo tempo, muito pequena. Ele era um cavalheiro, mas quando chegava perto de uma mulher não sabia o que fazer. Era como se soubesse tratar uma dama, mas não uma namorada. Bem diferente de Nicholas.
Nicholas.
Seu nome, seu rosto, suas lembranças. Tudo me veio à mente tão rápido que mal consegui processar. Nicholas. O que ele estaria fazendo? Logo seria dado o toque de recolher em Carolina. E ele ainda estaria fora, se tivesse arrumado um trabalho naquele dia. Talvez ele estivesse passeando com Olivia ou com a pessoa com quem ele passava o tempo desde o fim do nosso namoro. Parte de mim doía ao saber disso... parte de mim só queria se perder nesses pensamentos.
Olhei para o jarro. Tomei-o nas mãos e senti a moedinha se mover lá dentro, solitária.
— Como eu — suspirei.
Seria burrice guardar isso? Já tinha devolvido tudo, por que guardar uma moedinha? Seria tudo o que me restava? Uma moedinha dentro de um jarro para um dia mostrar à minha filha, quando fosse contar sobre meu primeiro namorado, aquele de que ninguém sabia.
Não tive tempo de ficar cultivando amarguras. As firmes batidas de Joseph soaram minutos mais tarde. Quando dei por mim, já estava correndo em direção à porta.
Abri-a de uma vez, e o príncipe pareceu surpreso ao me ver.
— Mas onde estão suas criadas? — perguntou olhando para o interior do quarto.
— Foram embora. Eu as dispenso sempre que volto do jantar.
— Todos os dias?
— Sim, claro. Posso muito bem tirar a roupa sozinha, obrigada.
Joseph levantou as sobrancelhas e sorriu, então eu corei. Não eram aquelas as palavras que eu queria usar.
— Pegue um casaco. Está frio lá fora.
Avançamos pelo corredor. Eu ainda estava um pouco distraída com meus pensamentos, e sabia que Joseph não era muito bom em puxar conversa. Porém, enlacei meu braço no dele quase que imediatamente. Gostava do fato de já termos certa intimidade.
— Se continuar dispensando suas criadas, terei que pôr um guarda na sua porta — ameaçou.
— Não! Não quero saber de babás.
Ele riu.
— Ele ficaria do lado de fora. Você nem saberia de sua presença.
— Saberia sim — reclamei. — Eu ia sentir.
Joseph fingiu dar um suspiro de exaustão. Eu estava tão envolvida na discussão que não escutei os cochichos até que três garotas estivessem praticamente na nossa frente. Blanda, Emmica e Tiny passavam por nós em direção a seus quartos.
— Senhoritas — cumprimentou Joseph inclinando levemente a cabeça.
Seria tolice imaginar que ninguém nos veria juntos. Meu rosto ficou vermelho no ato, eu não sabia bem por quê.
As meninas fizeram uma reverência e seguiram seu caminho. Virei a cabeça para observá-las subir as escadas. Emmica e Tiny pareciam curiosas. Em questão de minutos, contariam às outras sobre o episódio. No dia seguinte eu seria alvo de milhares de perguntas, sem dúvida. Já os olhos de Blanda se cravaram em mim como duas adagas. Eu tinha certeza de que ela levara aquilo como uma ofensa pessoal.
Voltei-me novamente para Joseph e soltei a primeira coisa que me passou pela cabeça.
— Eu disse que as garotas que ficaram assustadas com o ataque acabariam ficando.
Não sabia ao certo quem tinha feito aquilo, mas corriam boatos de que Tiny, que tinha desmaiado, era uma delas. Outras diziam que Bariel também, mas eu sabia que era mentira. Teriam de arrancar a coroa das mãos de seu cadáver antes disso.
— Você não imagina o alívio que foi — comentou Joseph, parecendo sincero.
Demorei um pouco para pensar em uma resposta, já que não esperava por aquilo e estava me concentrando muito para não levar um tombo. Eu não sabia bem descer escadas agarrada ao braço de alguém. E os saltos não ajudavam. Se escorregasse, pelo menos ele ia me segurar.
— Achei que isso fosse acabar ajudando — eu disse quando descemos o último degrau e já conseguia me manter de pé. — Quer dizer, é complicado ter que escolher uma entre várias meninas. Não ficaria mais fácil se as circunstâncias eliminassem algumas para você?
Joseph sacudiu os ombros.
— Suponho que sim. Mas não seria fácil de qualquer forma.
Ele parecia magoado.
— Boa noite, senhores.
Ele cumprimentou os guardas que abriram as portas do jardim sem hesitar um segundo. Talvez fosse bom aceitar aquela proposta de Joseph e deixá-los avisados de que eu gostava de sair. A ideia de poder escapar assim tão facilmente era tentadora.
— Não entendi — eu disse enquanto ele me conduzia para um dos bancos, o nosso banco.
O príncipe me deixou sentar do lado do banco que dava para as janelas iluminadas do palácio enquanto ele próprio se sentou na outra ponta, meio de lado, de modo que ficamos quase frente a frente. Isso facilitava a conversa.
Ele parecia um pouco hesitante para explicar, mas tomou fôlego e disse:
— Talvez estivesse sendo um pouco vaidoso, pensando que eu valeria algum risco. Não que deseje isso para ninguém! — esclareceu. — Não é isso que quero dizer... Não sei. Você vê tudo o que estou arriscando?
— Hã... não — respondi. — Você está aqui com sua família dando conselhos, e todas giramos em torno do seu horário. Sua vida continua a mesma, e a nossa mudou da noite para o dia. O que você estaria arriscando?
Joseph pareceu chocado.
— Demetria, posso ter minha família, mas imagine como é vergonhoso que seus pais observem suas tentativas de marcar o primeiro encontro com uma garota. E não apenas eles, mas o país inteiro! E para piorar não é um tipo normal de encontro. E quanto ao meu horário: quando não estou com vocês, estou organizando tropas, criando leis, ajustando orçamentos... e tudo isso sozinho ultimamente, enquanto meu pai apenas observa meus tropeços por não ter nem um pouco da experiência dele. Quando eu faço as coisas de um jeito que ele não faria, ele interfere e corrige meus erros. Por fim, enquanto tento realizar essas tarefas, vocês, garotas, não saem da minha cabeça. Fico agitado e apavorado demais com a presença de vocês!
Nunca o tinha visto gesticular tanto. Ele sacudia as mãos para todos os lados e depois as passava pelo cabelo.
— E você acha que minha vida não vai mudar? Quais são as chances de encontrar minha alma gêmea entre vocês? Terei sorte se encontrar alguém que fique ao meu lado pelo resto da minha vida. E se já mandei a moça certa para casa por não sentir nenhuma química? E se a escolhida me abandonar na primeira contrariedade? E se eu não encontrar ninguém? O que farei, America?
Seu discurso tinha começado cheio de fúria e paixão, mas no final as perguntas não eram mais retóricas. Ele realmente queria saber: o que faria se ninguém ali passasse perto de ser uma pessoa que ele pudesse amar? Embora esse não parecesse ser seu maior problema, o príncipe estava mais preocupado em não ser amado.
— Joseph, vou ser sincera: acho que você vai encontrar sua alma gêmea aqui. De verdade.
— Certeza? — Sua voz se encheu de esperança com a minha previsão.
— Absoluta.
Pus a mão em seu ombro. Ele pareceu confortado apenas com aquele toque. Perguntei-me quantas pessoas chegavam a tocá-lo de fato.
— Se sua vida está de pernas para o ar, como você diz, então sua futura esposa está aqui em algum lugar. Pela minha experiência, posso dizer que o amor verdadeiro é geralmente o mais inconveniente — afirmei, com um sorriso amarelo.
Ele pareceu feliz de ouvir essas palavras, que também serviram de consolo para mim. Eu acreditava nelas. E se não podia ter um amor meu, o melhor a fazer era ajudar Joseph a encontrar o dele.
— Espero que você e Miley deem certo. Ela é muito fofa.
Joseph fez uma cara estranha.
— É, parece que sim.
— Como? Tem alguma coisa errada em ser fofa?
— Não, não. É bom ser fofa.
Sua explicação parou por aí.
— O que você tanto procura? — ele perguntou de repente.
— O quê?
— Você não consegue manter os olhos parados. Sei que está prestando atenção, mas parece estar procurando alguma coisa.
Então percebi que ele estava certo. Ao longo de todo o seu pequeno discurso, eu não parava de olhar ao redor: jardim, janelas, torres. Estava ficando paranoica.
— Pessoas... câmeras... — eu disse, balançando a cabeça para olhar o céu escuro da noite.
— Estamos sozinhos. Só há o guarda da porta.
Joseph apontou para a figura solitária sob o poste do palácio. Ele tinha razão: não tínhamos sido seguidos para o lado de fora. As janelas estavam iluminadas, mas não havia ninguém ali. Eu já tinha notado isso, mas as palavras dele serviram de confirmação.
Relaxei um pouco a postura.
— Você não gosta de ser observada, gosta? — ele perguntou.
— Na verdade, não. Prefiro ficar fora do radar. Estou acostumada a isso — respondi sem olhar para ele, enquanto contornava com o dedo os relevos no bloco de pedra a meus pés.
— Você precisa se adaptar. Quando partir, os olhos do país permanecerão focados em você pelo resto de seus dias. Minha mãe ainda conversa com algumas das mulheres que conheceu durante sua própria Seleção. Todas são consideradas importantes. Até hoje.
— Perfeito! — resmunguei. — Mais um motivo para eu não ver a hora de chegar em casa.
Joseph fez uma expressão de quem pede desculpas, mas tive que desviar o olhar. Acabara de lembrar tudo o que aquela competição idiota estava custando para mim, como minha ideia de “normal” nunca mais seria a mesma. Aquilo não parecia justo...
Mas me contive. Não podia culpar Joseph. Ele era tão vítima como todas as garotas, embora de um jeito muito diferente. Dei um suspiro e olhei-o de novo. Encontrei uma expressão decidida em seu rosto.
— Demetria, posso perguntar algo pessoal?
— Talvez — eu me esquivei. Ele sorriu um pouco sem jeito.
— É que... Bem, noto que não gosta mesmo daqui. Você odeia as regras, a competição, a fama, as roupas e a... não, da comida você gosta — ele sorriu, e eu também. — Você sente saudades de casa, da família... e suspeito que também de outra pessoa. Seus sentimentos estão quase à mostra.
— É — comentei com ar enfadado —, eu sei.
— Mas você prefere ser infeliz e sentir saudades aqui em vez de voltar para casa. Por quê?
Senti um nó na garganta e o engoli em seco.
— Não sou infeliz... e você sabe o motivo.
— É, às vezes você parece bem. Vejo você sorrir quando conversa com as outras meninas, e está sempre muito contente durante as refeições. Concordamos nesse ponto. Mas outras vezes parece tão triste. Poderia me contar o motivo? A história toda?
— É só mais uma história de amor que não deu certo. Não é longa nem emocionante. Acredite.
Por favor, eu não quero chorar, foi o que pensei.
— Ainda assim, queria escutar uma história de amor verdadeiro além da história dos meus pais. Uma que tenha se passado do lado de fora dos muros, das regras e da rotina... Por favor.
A verdade que guardei em segredo por tanto tempo. Não imaginava que um dia a transformaria em palavras. Doía muito pensar em Nicholas. Será que eu era capaz de dizer seu nome em voz alta? Respirei fundo. Joseph era meu amigo. Tinha se esforçado muito para ser legal comigo. E tinha acabado de ser totalmente sincero...
— No mundo lá fora — comecei, apontando para além dos muros — as castas cuidam umas das outras, às vezes. Três famílias compram pelo menos uma das pinturas do meu pai todos os anos, e algumas famílias sempre me contratam para cantar na festa de Natal. São nossos patronos, entende? Nós éramos como que patronos da família dele, da Seis. Quando podíamos pagar alguém para limpar ou se precisássemos de ajuda para organizar as coisas, sempre chamávamos a mãe dele. Eu o conhecia desde a infância, mas ele era mais velho que eu, tinha quase a idade do meu irmão. Eles sempre faziam brincadeiras maldosas, e por isso eu fugia deles. Meu irmão mais velho, Logan, é artista como meu pai. Uns anos atrás, uma escultura de metal em que trabalhara por anos foi vendida por uma fortuna. Talvez você tenha ouvido falar dele.
— Logan Singer — disse Joseph.
Alguns segundos passaram e notei que o nome logo lhe pareceu familiar. Joguei os cabelos para trás dos ombros e prossegui:
— Ficamos muito contentes por ele. Logan tinha trabalhado muito duro naquela obra. E precisávamos do dinheiro. A família inteira ficou empolgada. Mas ele ficou com quase toda a quantia. Aquela única escultura fez sua carreira decolar. As pessoas começaram a telefonar todo dia querendo trabalhos seus. Hoje Logan tem uma lista de espera quilométrica e cobra caríssimo, porque pode. Acho que ele é um pouco viciado na fama. Os Cinco em geral não ganham esse tipo de destaque.
Meus olhos e os de Joseph se encontraram em um momento muito significativo. Pensei mais uma vez sobre como nunca mais passaria despercebida na vida, quisesse ou não.
— Mas não importa. Logo que as ligações começaram, Logan decidiu se afastar da família. Minha irmã mais velha tinha acabado de se casar, o que quer dizer que já não contávamos com a renda dela. Depois Logan começou a ganhar dinheiro de verdade e nos abandonou.
Botei a mão no peito do príncipe para enfatizar o que eu ia dizer.
— Isso não se faz. Ninguém deve abandonar a família. Manter-se unidos... é o único jeito de sobreviver.
Os olhos dele mostravam que tinha compreendido.
— Ele ficou com quase todo o dinheiro porque queria comprar um lugar no topo da hierarquia? — perguntou.
Confirmei com a cabeça e prossegui.
— Ele tinha uma ideia fixa de que precisava ser Dois. Caso se contentasse em ser Três ou Quatro, poderia ter comprado o título e nos ajudado. Mas ele está obcecado. É burrice, mesmo. Ele tem uma vida mais que confortável, mas quer o rótulo. E não vai parar enquanto não conseguir.
Joseph balançou a cabeça.
— Isso pode levar uma vida inteira.
— Desde que ele morra com um número dois na lápide, acho que não se importa.
— Presumo que vocês já não sejam mais muito próximos.
— Não — suspirei. — Mas no começo pensei que tinha entendido errado. Achei que Logan só estava se mudando para ser independente, não para se afastar da gente. No começo, fiquei do lado dele. Eu o ajudei a arrumar um estúdio e um apartamento. Ele quis contratar a mesma família de Seis que sempre ajudou nossa família. E o filho mais velho deles estava disponível e ávido para trabalhar, de modo que ajudou Logan a organizar as coisas por alguns dias.
Fiz uma pausa, lembrando-me daqueles momentos.
— Então, lá estava eu desencaixotando as coisas... e lá estava ele. Nossos olhos se encontraram. Ele não parecia mais tão velho ou maldoso. Fazia tempo que não nos víamos, sabe? E eu... fiquei simplesmente louca por ele.
Minha voz falhou e algumas das lágrimas que guardei por tanto tempo rolaram.
— Nossas casas ficavam próximas, e eu saía para passear durante o dia apenas para tentar vê-lo. Quando sua mãe vinha nos ajudar, ele às vezes a acompanhava. Nós ficávamos lá, um olhando para o outro. Era tudo o que podíamos fazer — deixei escapar com um soluço. — Ele era Seis e eu Cinco, e há leis... E a minha mãe! Ah, se ela soubesse ia ficar furiosa. Ninguém podia descobrir.
Minhas mãos se moviam em espasmos com o peso de toda aquela verdade vindo à tona. Mas continuei:
— Logo começaram a aparecer mensagens anônimas por baixo da janela, dizendo que eu era linda e que cantava como um anjo. E eu sabia que eram dele. Na noite do meu aniversário de quinze anos, minha mãe fez uma festa e convidou a família dele. Em determinado momento, ele me tirou de canto e me entregou um cartão de aniversário, dizendo que eu devia ler quando estivesse sozinha. Quando finalmente consegui, notei que o cartão não trazia o nome dele ou dizeres como “feliz aniversário”. Apenas as palavras: “Casa da árvore. Meia-noite”.
Joseph arregalou os olhos:
— Meia-noite? Mas...
— Você precisa saber que eu violo regularmente o toque de recolher.
— Demetria, você poderia ter ido parar na cadeia! — ele exclamou com um meneio de cabeça.
Dei de ombros e continuei:
— Na época, não parecia ser grave. Naquela primeira vez, senti que estava voando. Conhecia sua caligrafia das outras mensagens, e fiquei feliz de ele estar sendo esperto o bastante para manter tudo em segredo. Lá estava ele, imaginando uma maneira de ficarmos sozinhos. Eu não conseguia acreditar que ele queria ficar a sós comigo. Naquela noite, esperei no meu quarto e fiquei observando a casa da árvore no quintal. Perto da meia-noite, vi alguém subir os degraus. Lembro que fui escovar os dentes de novo, só por garantia... Eu me esgueirei pela porta dos fundos e fui para a casa da árvore. E ele estava lá. Era... inacreditável. Não me lembro do começo, mas logo confessamos nossos sentimentos um pelo outro, e não podíamos parar de rir, tão felizes que estávamos por sermos correspondidos. Eu nem ligava para o toque de recolher ou para a mentira que teria que contar aos meus pais. Não ligava para o fato de ser Cinco e ele, Seis. Não me preocupava com o futuro. Nada podia ser mais importante do que o amor dele por mim... E ele me amava, Joseph, ele me amava...
Mais lágrimas. Apertei o peito. Sentia a falta de Nicholas como nunca. Expor tudo aquilo tornava a ausência mais real. Não havia o que fazer senão terminar a história.
— Ficamos juntos em segredo por dois anos. Éramos felizes, mas ele estava sempre preocupado com nossa vida escondida e com o fato de não poder me dar o que achava que eu merecia. Quando recebemos a carta da Seleção, ele insistiu que fizesse a inscrição.
O queixo de Nicholas caiu.
— Sei que é burrice. Mas ele ficaria com um peso nas costas para sempre se eu não tentasse. E de verdade, de verdade, nunca achei que me escolheriam. Como?
Ergui os braços e os deixei cair sobre minhas pernas. Eu ainda estava desnorteada com aquilo tudo.
— Soube pela mãe dele que tinha começado a juntar dinheiro para se casar com uma moça misteriosa. Fiquei tão empolgada. Preparei um jantar surpresa com a intenção de arrancar o pedido dele. Eu estava prontíssima. Mas quando ele viu todo o dinheiro que eu tinha gastado por causa dele, ficou nervoso. Ele é muito orgulhoso. Queria me paparicar, não ser paparicado. E acho que naquele momento viu que jamais seria capaz disso. Por isso, em vez de me pedir em casamento, ele terminou comigo... Uma semana depois, fui chamada para participar da Seleção.
Escutei Joseph balbuciar algo que não pude entender. (n/a provavelmente foi Filho da P***)
— A última vez que o vi — concluí entre soluços — foi na minha despedida. Ele estava com outra garota.
— O QUÊ? — Joseph gritou.
Cobri o rosto com as mãos.
— O que me deixa louca é saber que há outras meninas atrás dele. Sempre houve. E agora ele não tem motivos para recusar. Talvez esteja neste instante com a menina da minha despedida. Não sei. E não posso fazer nada. Mas pensar em voltar para casa e assistir a tudo isso... Não posso, Joseph... Simplesmente não posso...
Desabei em lágrimas, e ele me deixou chorar. Quando as lágrimas finalmente pararam, eu disse:
— Joseph, espero que encontre uma pessoa sem a qual não possa viver. Espero muito. E desejo que nunca precise saber como é tentar viver sem ela.
O rosto de Joseph era mero eco da minha dor. Seu coração parecia ter sido despedaçado por minha história. Mais que isso: ele parecia estar com raiva.
— Sinto muito, Demetria. Eu não... — sua expressão se contorceu um pouco. — Agora é um bom momento para pôr a mão no seu ombro?
Sua dúvida fez com que eu sorrisse.
— Sim, agora é um ótimo momento.
Ele parecia tão cético como no dia anterior, mas em vez de apenas pôr a mão no meu ombro, inclinou-se e tentou me envolver em seus braços.
— A única pessoa que já abracei é minha mãe. Estou fazendo certo? — perguntou.
Eu ri.
— É difícil errar um abraço.
Após um instante, falei de novo:
— Mas eu entendo o que quer dizer. Também só abraço minha família. Aquele longo dia — com os vestidos, o Jornal Oficial, o jantar e as conversas — me deixara exausta. Era bom ter Joseph comigo, abraçando-me, às vezes até acariciando meu cabelo. Ele não era tão perdido como parecia. Esperou pacientemente minha respiração ficar mais lenta e, em seguida, afastou-se e olhou nos meus olhos.
— Demetria, prometo mantê-la aqui até o último momento possível. Sei que eles querem que a Elite seja composta de três garotas, e então poderei escolher. Mas eu juro: vou deixar duas garotas na Elite só para manter você aqui. Não vou mandá-la embora até que seja necessário. Ou até que esteja pronta. O que vier primeiro.
Concordei com a cabeça.
— Sei que nos conhecemos faz pouco tempo, mas acho você maravilhosa. Não gosto de vê-la magoada. Se ele estivesse aqui, eu... eu...
Joseph estremeceu de frustração e depois suspirou:
— Sinto muito, Demetria.
Ele me abraçou de novo e acalentou minha cabeça sobre seu ombro largo. Sabia que manteria suas promessas. Assim, deixei-me estar naquele que talvez fosse o último lugar onde poderia encontrar consolo sincero.
Tambem quero um Abraço do joseph.
ResponderExcluirAmei o Capitulo. Poste logo!!
Feliz Ano novo Tudo de Bom pra vc
Que lindoooo...
ResponderExcluirMuuito perfeito..
Joseph é tão fofo..
Own..*-*
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Beijos
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