04/02/2014

Capitulo 1


A atmosfera de Angeles estava tranquila. Permaneci imóvel por uns instantes, ouvindo o som da respiração de Joseph. Estava cada vez mais difícil encontrá-lo em um momento calmo e feliz de verdade. Aproveitei aquela ocasião ao máximo, agradecendo por ele estar, aparentemente, em sua melhor forma enquanto estávamos a sós. 
Desde que a Seleção conta com só seis garotas, ele tem estado mais ansioso que no começo, quando as trinta e cinco chegaram de uma vez. Imaginei que talvez ele tivesse pensado que teria mais tempo para fazer suas escolhas. E devo reconhecer, apesar de me sentir culpada, que era por minha causa que ele tinha esse desejo. 
Príncipe Joseph, herdeiro do trono de Illéa, gostava de mim. Ele me falou na semana passada que se eu dissesse, sem nenhuma ressalva, que me importava com ele assim como ele se preocupava comigo, toda essa história de competição estaria acabada. Eu até considerava essa ideia, ficava imaginando como seria pertencer a Joseph. 
Mas o problema é: Joseph não me pertencia, para começo de conversa. Havia mais outras cinco meninas comigo — meninas com quem ele saía e cochichava coisas —, e eu não sabia o que pensar disso. E também havia o fato de que aceitar Joseph significava ter que aceitar uma coroa, uma ideia que eu tendia a ignorar, até por não saber ao certo como isso me afetaria... 
E, claro, havia Nicholas. 
Tecnicamente, ele não era mais o meu namorado — terminou comigo antes de o meu nome ser sorteado para a Seleção —, mas quando surgiu no palácio como um dos guardas, todos os sentimentos que eu tinha tentado deixar para trás encheram meu coração. Nicholas era meu primeiro amor. Bastava olhar para ele para saber... que eu era dele. 
Joseph não sabia que Nicholas estava no palácio, mas sabia bem que havia alguém da minha província que eu desejava esquecer, e estava, muito gentilmente, dando-me tempo para superar a situação enquanto tentava encontrar outra pessoa
com quem ele pudesse ser feliz, caso eu nunca fosse capaz de amá-lo. 
Conforme ele mexia a cabeça devagar, respirando sobre meus cabelos, eu pensava: como seria se eu simplesmente amasse Joseph?

 — Sabe quando foi a última vez que olhei de verdade para as estrelas? — perguntou ele. 

Estávamos deitados sobre uma toalha no jardim. Aconcheguei-me mais para o lado dele, tentando me manter aquecida naquela noite fria de Angeles.

 — Não faço ideia. 
— Um tutor me fez estudar astronomia há alguns anos. Quando vemos as estrelas mais de perto, percebemos que na verdade elas têm cores diferentes. 
— Calma lá. A última vez que você olhou para as estrelas foi para estudá-las? E a diversão?

 Joseph riu. 

— Diversão. Vou ter que espremê-la entre as votações do orçamento e as reuniões do comitê de infraestrutura. Ah, e a definição das estratégias militares, no que, aliás, eu sou péssimo.
 — E no que mais você é péssimo? — perguntei, passando a mão em sua camisa engomada.
 
Meu carinho encorajou Joseph a mudar de posição e fazer pequenos círculos em meu ombro.

 — Por que quer saber isso? — perguntou, fingindo irritação. 
— Porque ainda sei tão pouco sobre você. E você parece ser perfeito em tudo. É bom ter uma prova do contrário.

 Ele se apoiou sobre um cotovelo e fixou os olhos no meu rosto:

 — Você sabe que não sou. 
— Mas está quase lá — respondi. 

Nossos corpos se tocavam de leve. Joelhos, braços, dedos. Joseph balançou a cabeça com um sorriso nos lábios. 

— O.k., o.k. Não consigo planejar guerras. Sou péssimo nisso. E acho que seria um cozinheiro horrível. Nunca cozinhei, logo...
 — Nunca? 
— Talvez você já tenha notado a multidão de pessoas que trabalham para manter a sua barriga cheia de bolos e doces... Por acaso, são eles que me alimentam também.

 Achei graça. Em casa, eu ajudava a preparar praticamente todas as refeições.
 — Mais — pedi. — No que mais você é ruim? 

Ele me abraçou forte, e pude ver um segredo brilhar em seus olhos castanhos.
 
— Descobri uma coisa recentemente...
 — Conte.
 — Descobri que sou um completo fracasso em ficar longe de você. Um problema muito grave. 

Sorri. 

— Você já tentou? 

Joseph fingiu pensar.

 — Bem, não. E não espere que eu vá começar. 

Rimos baixo, abraçados. Era tão fácil, nesses momentos, me imaginar assim pelo resto da vida. 

O farfalhar das folhas e da grama anunciava a chegada de alguém. Embora nossa situação fosse completamente aceitável, fiquei um pouco encabulada e me sentei rapidamente. Joseph fez o mesmo assim que o guarda contornou a cerca para chegar até nós.

 — Alteza — disse, inclinando a cabeça. — Perdão pela intromissão, senhor, mas é imprudente permanecer do lado de fora por muito tempo a essa hora da noite. Os rebeldes podem...
— Compreendo — concordou Joseph, com um suspiro. — Já entraremos. 

O guarda nos deixou, e Joseph virou-se para mim.

 — Outro defeito meu: estou perdendo a paciência com os rebeldes. Estou cansado de lidar com eles. 

Joseph se levantou e me ofereceu a mão. Segurei a mão dele e reparei na frustração em seus olhos. Passamos por dois ataques de rebeldes desde o começo da Seleção: um dos nortistas, que eram apenas baderneiros, e outro dos sulistas, que eram assassinos. Mesmo com minha experiência mínima, eu podia compreender seu cansaço.
 Joseph recolheu a toalha e começou a sacudi-la. Era claro que ele não estava feliz com aquele fim antecipado da noite.

 — Ei — eu disse, fazendo-o olhar em meus olhos. — Eu me diverti. Ele concordou com a cabeça.
 — É sério — continuei, me aproximando. Ele segurou a toalha com uma das mãos e passou o braço livre em volta da minha cintura. — Devíamos fazer isso outras vezes. Você podia me dizer quais são as cores de cada estrela, porque eu realmente não consigo ver diferença de uma para outra.
 
Joseph sorriu, triste.
 — Gostaria que as coisas fossem mais fáceis às vezes. Normais.

 Virei para ele e o abracei. Joseph soltou a toalha e retribuiu o gesto.

 — Odeio ter que lhe revelar isso, Alteza, mas mesmo sem os guardas você está bem longe de ser normal. 

Sua expressão ficou mais relaxada, mas ainda séria.

 — Você iria gostar mais de mim se eu fosse normal — falou.
 — Sei que é difícil para você acreditar, mas eu realmente gosto de você do jeito que você é. Só preciso de mais...
 — Tempo. Eu sei. E estou pronto para dar o tempo necessário a você. Só gostaria de ter certeza de que você vai mesmo querer estar ao meu lado quando esse tempo acabar. 

Desviei o olhar. Aquilo eu não podia prometer. Toda hora, eu olhava para o meu coração e comparava Joseph e Nicholas, mas nenhum deles se sobressaía. A não ser, talvez, quando eu estava sozinha com um deles. Neste exato momento, por exemplo, eu estava tentada a prometer a Joseph que ficaria a seu lado no final. 
Mas eu não podia. 

— Joseph — sussurrei, após notar que ele estava se sentindo rejeitado por eu não ter respondido. — Não posso dizer isso. Mas o que posso dizer é que quero estar com você. Quero saber se há possibilidade de... de... — gaguejei, sem saber ao certo como me expressar.
 — Nós? — Joseph sugeriu. 

Sorri, feliz por ver como tinha sido fácil para ele me entender.
 
— Sim — prossegui. 
— Quero saber se há a possibilidade de existir um “nós”. 

Ele ajeitou meus cabelos para trás dos ombros

 — Penso que as chances são bem altas — afirmou, sem rodeios.
 — Também penso. Só... tempo, tudo bem? 

Joseph fez que sim com a cabeça. Parecia mais feliz. Era assim que eu queria terminar nossa noite, com esperança. Bem, talvez com algo mais. Mordi os lábios e me virei para ele com olhos desejosos.
 Sem hesitar nem um segundo, ele se inclinou e me beijou. Foi um beijo terno e suave, que me deixou com a sensação de ser adorada, e com vontade de outro. Eu poderia ter ficado ali por horas, só para ver se conseguia aplacar aquela sensação, mas Joseph recuou cedo demais. 

— Vamos — disse ele em tom de brincadeira, enquanto me puxava para o palácio. — Melhor entrar antes de os guardas virem atrás de nós com cavalos e lanças.

Assim que Joseph me deixou nas escadas, o cansaço tomou conta de mim. Eu praticamente me arrastava até o segundo andar e ao canto onde estava meu quarto quando, de repente, fiquei totalmente desperta de novo. 

— Ah! — disse Nicholas, também surpreso em me ver. — O fato de eu ter pensado que você estava no seu quarto esse tempo todo provavelmente faz de mim o pior guarda do mundo.

 Sorri. 

As garotas da Elite eram obrigadas a dormir com pelo menos uma de suas criadas no quarto. Eu não gostava muito da ideia, de modo que Joseph insistiu em manter um guarda de vigia à minha porta para o caso de uma emergência. O problema era que, na maioria das vezes, esse guarda era Nicholas. Saber que quase todas as noites ele estaria bem ali na minha porta me dava uma sensação estranha de alegria misturada com terror. 
Aquela tranquilidade momentânea logo desvaneceu quando Nicholas se deu conta de por que eu não estava sã e salva enrolada nos cobertores. Ele limpou a garganta, tenso:

 — Vocês se divertiram?
 — Nicholas — cochichei, olhando em volta para ter certeza de que ninguém estava perto —, não fique bravo. Faço parte da Seleção e as coisas são assim.
— E como eu vou ter chance desse jeito, Demi? Como posso competir com ele se você raramente fala com os guardas como eu?

 Fazia sentido, mas o que eu podia fazer? 

— Por favor, não se irrite comigo, Nicholas. Estou tentando resolver tudo isso.
 — Não, Demi — ele disse, retomando a voz terna de antes. — Não estou irritado com você. Eu tenho saudade de você. 

Ele não ousou pronunciar as palavras, mas seus lábios se mexeram: “eu te amo”.

 Me derreti.

 — Eu sei — respondi, pondo a mão em seu peito e me permitindo esquecer por um instante tudo o que estávamos arriscando ali. — Só que isso não muda o lugar onde estamos nem o fato de eu ser da Elite agora. Preciso de tempo, Nicholas. Ele ergueu a mão até a minha e assentiu com a cabeça.
 — Isso eu posso dar. Só... tente encontrar um tempo para mim também.

 Eu não queria começar a explicar como isso seria difícil. Apenas abri um sorrisinho antes de recolher a mão.

 — Preciso ir. 

Ele me observou caminhar até o quarto e fechar a porta.
 Tempo. Eu vinha pedindo muito tempo ultimamente. Tinha a esperança de que, se tivesse tempo suficiente, tudo ia se resolver.


6 comentários:

  1. Amei o Primeiro Capitulo.
    Ja estou louca pro Proximos Capitulos. Postee logo!! Bjs

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  2. Oi linda,nova leitora.Estou amando a continuação da história.Só lamento a Demi ficar em dúvida,pois tadinho do joe é realmente um verdadeiro príncice.O Nick perdeu a chance dele.Mas como eu disse amando MIITO.Poste logo,assim q poder por favor.bjuuuuu

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  3. Muito bom esse primeiro cap ... Quero Jemi logoooo, poxa, o Nick pode ter sido bom para a Demi mas ele perdeu a chance dele, o Joe faz tudo para ela se sentir bem lá, ele realmente ama ela, prova disso foi dizer que com uma palavra tudo aqui estaria acabado e só restaria eles JUNTOS !!! Quero eles juntos logoooo

    possta logoo

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  4. Anônimo4/2/14 21:19

    Lindooooo...\o/
    Ameiii..
    É tão fofo esses momentos do Joe e da Demi..Awn...*-*
    Eu não gosto do Nick com a Demi...
    O Joe é mil vezes mais fofo...
    haha
    beijooo

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  5. Momentos Joe e Nick são mt fofos <3
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    1. comecei nova fic http://tudoqueeumaisqueroevoce.blogspot.com.br/
      segue, divulga?

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